Especial: Empreendedorismo: um negócio de mulher
Veja os relatos de mulheres empreendedoras de Imbituba que estão engajadas no associativismo e acreditam na valorização da mulher no mercado empresarial
O número de mulheres empresárias em Santa Catarina deu um salto de 34% em 2015. Os dados são do Conselho Estadual da Mulher Empresária - Ceme, o órgão orientador dos trabalhos de Núcleos de Mulheres Empresárias vinculados às Associações Empresariais filiadas à Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina - FACISC.
No último ano, sete novos núcleos foram criados e passaram a integrar o movimento estadual. "O Conselho reunia no início de 2015, 892 mulheres em 46 núcleos de mulheres empresárias em Santa Catarina. Com a criação dos núcleos de Biguaçu, Trombudo Central, Agrolândia, Correia Pinto, Braço do Norte, Irineópolis e Canoinhas este número subiu para 964 mulheres", explica a presidente do Ceme, Janelise Royer dos Santos. Com este aumento, o número de núcleos e cidades participantes do Conselho Estadual também cresceu e hoje o Ceme conta com 53 núcleos em Santa Catarina.
Imbituba
Imbituba conta com o Núcleo da Mulher Empresária, que há sete anos trabalha pelo desenvolvimento da mulher empreendedora e também realiza ações sociais, através da ACIM. Os núcleos atuam sob o guarda-chuva das associações empresariais de todo o Estado. Têm como objetivo incentivar o empreendedorismo feminino através do desenvolvimento do potencial da mulher empresária e das suas empresas.
O Conselho e os núcleos realizam capacitações, eventos, treinamentos e incentivam a participação da mulher no associativismo voluntários nas associações empresariais. Também atuam na formação de lideranças femininas nas suas cidades e no Estado.
Para fazer parte de um núcleo, a mulher empresária deve procurar a associação empresarial. Basta se associar e participar das reuniões que acontecem periodicamente. Podem participar mulheres empresárias, profissionais liberais, líderes de empresas e empreendedoras.
Mais informações: ACIM (48) 3255-1415 ou no e-mail nucleos@acimimbituba.org
“Mulheres são mais sensitivas e possuem um olhar mais amplo para as pessoas e problemas”
Sarah Medade - Representante do Núcleo da Mulher Empresária da ACIM
Sarah Milka Medade atua na Expressão Exata Ltda, empresa de confecção têxtil e hoje está focada na área comercial e na busca de soluções tributárias e legais da empresa. Filha de empreendedores, acredita que o empreendedorismo vai se tornando algo enraizado e quanto mais o tempo passa, mais difícil de imaginar uma vida sem ele. “Eu já tive algumas experiências positivas e negativas ao longo da minha jornada no empreendedorismo, e o que mais aprendi foi a enfrentar sejam as minhas limitações, as buscas pelas competências técnicas, a disciplina e como lidar com pessoas”, afirma.
Ela acredita que só sendo mulher para entender o quanto muitas vezes é preciso se posicionar. “Escutamos comentários inapropriados, é difícil ser encarada como profissional e não como o ‘gênero feminino’, mas são coisas que com o tempo vamos aprendendo a lidar a nos impor”. Quanto a gestão ela não acredita que há muita diferença na forma de atuar. “Acho que há, sim, perfis profissionais e personalidade, isso é o que mais impactará na forma de gestão. Mulheres são mais sensitivas e possuem um olhar mais amplo para as pessoas e problemas, então acho que isso acaba se destacando na relação com o colaborador”, diferencia.
Para ser um empreendedor de sucesso, independente do gênero, ela diz que primeiro é necessário um sonho. “Depois foco, disciplina e perseverança. E após tudo isso saber os momentos adequados de agir com garra quando for necessário e de deixar a paixão de lado e também reconhecer o fim. Para o reconhecimento que merecemos no mercado de trabalho o caminho é muito longo, ainda existe no mercado um favoritismo pelas relações de trabalho homem/homem, mas é algo que com o tempo e com o empreendedorismo feminino, com o posicionamento da mulher cada vez mais forte e duro pode ser bastante diluído. Acredito muito nisso”.
“Tudo é possível quando você programa sua mente e deixa que o coração te guie”
- Paula Hagelund, representante do Núcleo de Turismo Barra de Ibiraquera e Região da ACIM
Paula Renata Hagelund administra a Pousada Raia 1, tornou-se empreendedora com a vida, desde os 13 anos já procurava ganhar o próprio dinheiro fazendo artesanato, cursos técnicos, entre outros. No começo enfrentou muitas dificuldades pois saiu do zero, sem um planejamento. “Eu tive que criar projetos de trabalho para um melhor andamento. Para ter sucesso é preciso gostar do que fazemos, e especialmente no segmento da hospedagem, ter prazer em atender bem”, lembra ela, que não passou por algum tipo de preconceito profissional por ser mulher.
No modo de gestão ela acredita que há diferenças entre homens e mulheres pelas diferenças naturais, porém sem um ser melhor que o outro. “Cada um tem suas qualidades e defeitos. Acredito que minha gestão é diferente não por ser mulher, mas por tratar o colaborador como pessoas amigas, respeitando e valorizando o trabalho que me proporcionam - é uma troca, pois o resultado depende do funcionamento de cada setor”, explica.
Paula sente-se uma profissional reconhecida e em relação a valorização da mulher acredita que a cultura precisa mudar. “Mudar a cultura do país, do sistema e da própria mulher. Mulheres, corram atrás do que vocês querem e do que vocês pensam. Tudo é possível quando você programa sua mente e deixa que o coração te guie”, encoraja.
“A mulher precisa cultivar o SER e não o TER”
- Andréia Miranda - representante do Núcleo de Escritórios Contábeis da ACIM
Andreia Leydeane Miranda atua na Servicon Serviços De Contabilidade e quando era
criança as amigas a escolhiam para ser a líder da classe ou então para resolver algum problema. “Desde então percebi uma facilidade em envolver as pessoas, ajuda-las a conquistar seu objetivo, sempre me senti empreendedora”, recorda. Sua empresa hoje conta com departamentos de RG, fiscal, contábil e de contratos, sendo que ela atua como gestora nas informações que esses departamentos precisam para execução dos trabalhos. “Também atuo como diretora financeira e presto Assessoria empresarial aos nossos clientes”.
O início foi difícil pois ela era funcionária e, como milhões de brasileiros, sonhava com o próprio negócio. “Só não sabia que a diferença entre ser funcionaria e ser empresária teria uma distância tão grande”. Mas não enfrentou dificuldades em seu caminho por ser mulher, ao contrário, Andréia acredita que por ter um lado mais sensível desenvolvido as oportunidades sempre se apresentam. “Para ser uma empresária de sucesso acredito que é preciso ter conhecimento da área em que atua, capacitação profissional contínua e de relações humanas e fé em si mesma”, destaca.
Confiar em seu potencial é o ingrediente que ela considera essencial para a conquista do reconhecimento do mercado. “A mulher possui uma grande força interna, mas precisa ter convicção. A mulher precisa cultivar o SER e não o TER. No ano passado tive a oportunidade de ir a um congresso em um dos convidados era uma senadora, mulher. Foi perguntado a ela se em sua vida pública sofreu preconceito por ser mulher. Em outras palavras ela disse que sim, pois a política brasileira ainda vê o homem como aquele que pode tomar grandes decisões, porém ela afirmou que chegou até o Senado porque teve um grande aliado: a persistência”, compartilha.
Dados de empreendedorismo feminino no Brasil
- De 2002 a 2012 o número de mulheres empreendedoras aumentou em 18%
- No mesmo período o número de homens empreendedores cresceu apenas 8%
- 18% das empreendedoras têm o ensino superior incompleto ou completo, enquanto que os homens aparecem com 12%
- Apesar de 30% das mulheres atuarem como sócias em empresas, apenas 0,2% estão em sociedade com grandes instituições.
- O salário recebido pelas mulheres chega a ser 26,5% inferior ao de homens no mesmo nível profissional.
- No Fórum Econômico Mundial de 2015, o Brasil foi apresentado como o 85º no ranking que se refere à equiparação de salários.
- 55% das donas de pequenos negócios cursou, pelo menos, o Ensino Médio até 2012. Em 2002, fatia era de 39,3%
- Sete 7,35 milhões é o número de empreendedoras no Brasil
Fontes: Facisc, Sebrae, Dieese, Serasa Experian, Governo Federal